Igrejas brasileiras repudiam irregularidades no Ministério da Educação

Tanto a Igreja Presbiteriana Independente quanto a Igreja Presbiteriana Unida do Brasil fizeram declarações públicas sobre eventos envolvendo o Ministério da Educação daquele país. Fiel à sua presença e compromisso histórico no Brasil, ambas as instituições rejeitaram as ações ilícitas do atual ministro da educação e pastor presbiteriano, invocando a voz profética das igrejas na vida pública em prol da justiça. A AIPRAL acompanha os pronunciamentos de suas igrejas-membro e compartilha o texto de ambas no artigo a seguir.

A educação é um bem precioso nas tradições presbiterianas e reformadas e faz parte da missão pública das igrejas da Aliança. O fato de igrejas evangélicas estarem envolvidas em um escândalo de favoritismo e desvio de recursos públicos destinados à educação deve ser repudiado por todos os cristãos e cristãos de boa fé. É com esse espírito que acompanhamos os anúncios públicos da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil e da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil.

DECLARAÇÃO PÚBLICA
DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL

em face das recentes denúncias de graves irregularidades praticadas no âmbito do Ministério da Educação (MEC)

A IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL (IPIB) é uma denominação protestante estabelecida no ano de 1903 e que já conta com quase 120 anos de serviço ao Evangelho de Jesus Cristo e à causa da justiça e dos necessitados neste país marcado por tantos contrastes econômicos e sociais.

A IPIB, diante das recentes denúncias de tráfico de influência e favorecimento a pastores no âmbito do Ministério da Educação, vem a público se manifestar nesta hora tão preocupante da vida nacional. Tais denúncias compareceram amparadas em áudio amplamente divulgado pelas mídias e que envolvem o próprio ministro da Educação – que é pastor presbiteriano – bem como outros dois pastores evangélicos.

1) A Igreja Presbiteriana Independente do Brasil inicialmente ESCLARECE que o referido pastor ocupante do cargo de ministro da Educação não pertence aos seus quadros, mas, sim, a outra denominação. A IPIB, portanto, não detém qualquer laço eclesiástico com o atual titular do Ministério da Educação e nem com os outros pastores citados na denúncia.

2) A Igreja Presbiteriana Independente do Brasil LAMENTA PROFUNDAMENTE que lideranças religiosas estejam envolvidas em escândalo na esfera da gestão pública, particularmente em área essencial, carente de cuidados prioritários e investimentos urgentes.

3) A Igreja Presbiteriana Independente do Brasil REPUDIA todos os atos ilícitos que vêm sendo denunciados, aguardando das autoridades constituídas a justa, rápida e rigorosa apuração dos fatos, dando aos acusados o amplo direito de defesa.

4) A Igreja Presbiteriana Independente do Brasil REAFIRMA SUA COMPREENSÃO do papel que exercem as confissões religiosas na sociedade. A Igreja cumpre sua missão histórica através do caráter exemplar da sua membresia, da pregação da boa nova do Evangelho, do serviço de misericórdia e da palavra profética em favor da justiça.

5) A Igreja Presbiteriana Independente do Brasil RESSALTA, no dizer de um dos seus melhores teólogos, que, enquanto instituição, “não deve a Igreja associar-se ao Estado ou mesmo tentar substituí-lo”, pois tais ações só desonram o Senhor da Igreja. As práticas que têm sido denunciadas são um exemplo eloquente desse desvio de conduta.

6) Finalmente, a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil RENOVA SEU COMPROMISSO DE ORAÇÃO E AÇÃO pelo povo brasileiro, que vem sofrendo tanto com simultâneas crises – sanitária, econômica, social, ética, para lembrar das principais. A IPIB está convicta de que o amor, a misericórdia, a graça e a justiça divina cobrirão o país e agasalharão a resiliente e “brava gente brasileira” nestes tempos de lutas e aflições.

COMISSÃO EXECUTIVA DA ASSEMBLEIA GERAL DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL

São Paulo, 25 de março de 2022

PRONUNCIAMENTO
DA IGREJA PRESBITERIANA UNIDA DO BRASIL

Ante às irregularidades que envolvem o Ministério da Educação

“O cristão não hesita em dar a vida pela sua fé, mas é muito triste morrer de vergonha por causa dela.”

1) A Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (IPU) nasceu nos anos 70, como fruto da luta de homens e mulheres que foram perseguidos por lutar pelos ideais de uma nação democrática e por uma sociedade mais justa.

2) A IPU entende que a obrigação de fazer pronunciamentos sobre questões sociais deriva de sua vocação profética de proclamadora e testemunha do Reino, bem como de sua submissão e fidelidade à Palavra de Deus. (*)

3) A IPU sempre entendeu que a educação, gratuita, de qualidade e acessível a todos, é o caminho para a redução das desigualdades, que há cinco séculos caracterizam a sociedade brasileira.

4) O Presbiterianismo brasileiro foi beneficiado pelo trabalho de grandes educadores como Mary Ann Chamberlaim, Eduardo Carlos Pereira, Erasmo Braga, Benjamim Moraes, José Borges dos Santos Jr., Billy Gammon, Rubem Alves, João Dias de Araújo, Áureo Bispo dos Santos e Joaquim Beato, dentre muitos outros.

5) É por esta visão e por este passado que a IPU vê com profunda preocupação e tristeza os rumos que tem tomado a educação em nosso país e, apesar de saber que há um pastor presbiteriano à frente do Ministério da Educação, de forma alguma nos sentimos mais representados agora, neste governo, do que estávamos representados pelos três desqualificados ministros que o antecederam;

6) A IPU não acredita que alunos portadores de deficiência atrapalham a aprendizado dos colegas; A IPU não aceita que a universidade deva ser reservada para poucos; A IPU não pensa que os professores são profissionais que não conseguiram fazer outras coisas; A IPU não ensina que pessoas homossexuais sejam frutos de famílias desajustadas;

7) E, acima de tudo, a IPU repudia que a liberação de verbas por parte do Ministério da Educação deva ser feita prioritariamente aos amigos de um determinado “pastor”, mesmo que este seja um pedido especial feito pelo Presidente da República e ainda que haja contrapartidas para beneficiar igrejas evangélicas.

8) A IPU crê que todos os cristãos têm uma responsabilidade social, e, que, no desempenho de seus ministérios, tanto homens quanto mulheres podem assumir funções públicas e até de governo, mas isso não significa que, por amor ao poder, esses cristãos devam agir como saduceus dos tempos modernos, que se aliam aos governantes de plantão e deixam de agir como profetas no meio de uma sociedade injusta.

9) A IPU reconhece que a educação em nosso país vive uma profunda crise, mas sempre nos lembramos que as crises geram oportunidades de reflexão e recomeço, e neste tempo de quaresma, somos chamados a refletir sobre nosso presente, a fim de que possamos construir um futuro melhor.

10) A IPU conclama seus membros a permanecer em constante intercessão pelo nosso país e, ao mesmo tempo, os incentiva; a) A assumir uma cidadania responsável, como testemunhas de Cristo, nos sindicatos, nos partidos políticos, nos diretórios acadêmicos, nas fábricas, nos escritórios, nas cátedras, nas eleições e nos corpos administrativos, legislativos e judiciários do País; ( * ) b) A proclamar, profética e incessantemente, os princípios éticos e sociais do evangelho de modo que sejam denunciados todos os erros dos poderes públicos, sejam de omissão ou comissão, que resultem em ameaças ou obstáculos à paz social ou tendam à destruição da nossa estrutura democrática ( * ).

Que assim Deus nos ajude!

CONSELHO COORDENADOR DA IGREJA PRESBITERIANA UNIDA DO BRASIL

Vitória, ES, 26 de março de 2022