Celebração do presbiterianismo brasileiro

Hoje 12 de agosto ás 20 hs do Brasil, o grupo Resistência reformada comemora o dia do presbiterianismo brasileiro através de um live no perfil do Facebook, que teve sua origem com a chegada de Ashbel Green Simonton há 161 anos em nosso país. AIPRAL adere e convida você a participar de tão importante ocasião.

Resistência Reformada é um grupo formado por pastoras/es, presbíteras/os, diaconisas/nos e lideranças em geral das igrejas Presbiteriana Independente do Brasil (IPIB) Presbiteriana Unida do Brasil (IPU), Presbiteriana do Brasil (IPB), entre outras reformadas, que tem os seguintes objetivos principais:

1) articulação organizada dos pressupostos da teologia reformada de maneira arejada, enfrentando o puritanismo e o fundamentalismo teológico nessa área;

2) oposição política ao bolsonarismo, neofascismo, a toda a qualquer expressão de opressão, formando uma frente plural no que tange às opções partidárias;

3) ação conjunta por meio de publicações em sites, blogs, lives, jornais, rádios/podcasts, próprios ou de terceiros, que estejam engajados na mesma finalidade;

4) publicações próprias ou de terceiros através de e-books e futura criação de uma editora que sirva para divulgar, promover e incentivar o conhecimento das propostas verdadeiramente reformadas;

5) atuação no meio em que vivemos, visando combater o machismo e a opressão econômica, política e religiosa que nos assolam nos dias atuais;

6) pregar, de forma inequívoca e consciente, a igualdade entre raças, tribos, nações e gêneros;

7) defender o meio ambiente, na condição de cuidadores daquilo que nos foi dado.

Manifesto da Resistência Reformada

 

1. Diante do quadro que, hoje, caracteriza o mundo evangélico protestante no Brasil, e diante da crise social e política que vivemos, o Movimento Resistência Reformada achou por bem esclarecer o que acredita ser a Teologia Reformada, distinguindo-a de outras tradições cristãs e esclarecendo o uso, às vezes, inadequado que se faz publicamente do termo “reformado”.

2. A Teologia Reformada ou Calvinista é uma forma de teologia protestante ou evangélica (termos utilizados aqui como sinônimos) que se caracteriza por vínculos históricos com a Reforma Protestante do século XVI e, particularmente, com o pensamento de João Calvino (1509-1564). Cremos que é uma tradição dinâmica que se transformou no decorrer dos séculos e chegou a nós com a mesma vitalidade e espírito reformador de suas origens, porém, atualizada em suas preocupações e sempre disposta a se autocriticar e a se reconstruir à luz do avanço dos estudos bíblicos e das necessidades da missão outorgada por Deus à igreja, de anunciar o Evangelho de Cristo e promover a chegada do Reino de Deus.

3. A Teologia Reformada acredita na aliança de Deus com a humanidade, com a qual estabeleceu um compromisso mútuo pela justiça e pela paz, em nome do amor e da verdade. Em Cristo, o perdão de Deus é oferecido por sua misericórdia, e pela graça somos conduzidos à santidade e à comunhão com Deus e, mutuamente, vivemos a verdade escatológica da comunhão universal

.4. Ecclesia reformata semper reformanda est (A Igreja Reformada está sempre em reforma) – um dos lemas da Tradição Reformada mostra o caráter aberto e autocrítico dessa tradição cristã. Por isso, nenhuma confissão de fé, seja individualmente, seja em grupo, possui autoridade representativa e normativa sobre as demais. Em fidelidade ao Senhor Jesus Cristo e comprometidos com as Escrituras Sagradas, aceitamos o papel da racionalidade humana na elaboração de uma Teologia Reformada contextual, sob a iluminação do Espírito Santo, visando sempre à glória de Deus.

5. Entendemos que a Teologia Reformada não se alinha com formas de liderança ministerial nem com organizações eclesiásticas ditas cristãs cujo objetivo evidente seja o lucro pessoal, o interesse político-ideológico, a exploração da boa-fé das pessoas mediante a oferta de “milagres” e outros pretensos benefícios incompatíveis com o espírito de Cristo, tais como objetos ungidos (amuletos), ganhos pessoais e outros tipos de elementos mágicos. Isso não implica numa rejeição da ação do Espírito Santo, mas dos abusos perpetrados por aqueles e aquelas que se utilizam dessas doutrinas para construir seus impérios eclesiásticos que nada têm a ver com a construção do Reino de Deus, fruto da ação do Espírito Santo.

.6. Entendemos que a Teologia Reformada se distingue, também, de hermenêuticas fundamentalistas e neopuritanas que divinizam a Bíblia, atribuindo-lhe predicados que cabem somente a Deus, e promovendo, dessa forma, uma interpretação ignorante quanto às questões históricas e literárias que cercam o texto. Discordamos, também, do dogmatismo fundamentalista engessado, que trai a dinâmica da confessionalidade reformada e repudiamos a tentativa, por parte de formas ou movimentos específicos dentro da Tradição Reformada, de assumir o controle sobre a verdade e a validade da identidade e do pensamento reformados. Além disso, rejeitamos o moralismo legalista e o sectarismo em relação a outros cristãos, a outros grupos religiosos e à sociedade em geral.

7. Reafirmamos que a Teologia Reformada defende a separação entre igreja e Estado, que tem como objetivo a proteção da liberdade religiosa e de expressão, bem como a promoção do reconhecimento mútuo e da tolerância para com todas as formas legítimas de identidade e de estilo de vida nas sociedades democráticas plurais. Afirmamos o engajamento político de cristãs e cristãos e o papel profético das Igrejas na denúncia dos pecados e dos males sociais, bem como no anúncio de valores e de caminhos concretos para a construção de sociedades mais justas, pacíficas e humanizadoras. Cremos e agimos assim, porque percebemos a Bíblia como alicerce firme na busca por justiça social, por leis justas e por um mundo melhor para todos. Por isso, exigimos o cumprimento dos direitos constitucionais, isto é, que o Estado priorize seus recursos para a criação de uma educação de qualidade para todas as pessoas, em todos os níveis, e para a consolidação de um sistema de saúde pública de qualidade, independentemente do ônus financeiro desse empreendimento.

8. Cremos que a Teologia Reformada se propõe aliada da ciência, ainda que de maneira eticamente crítica, mas nunca inimiga dos avanços intelectuais da humanidade, que são bênçãos de Deus. Não há, em essência, qualquer incompatibilidade entre a ciência e a fé. Cremos que os avanços das ciências em seus mais diversos campos são, em geral, benéficos para o esclarecimento e para o amadurecimento intelectual da humanidade, pelo que somos gratos a Deus.

9. A crise do meio ambiente, ignorada pelo fascismo contemporâneo e pela economia neoliberal, é uma de nossas preocupações prioritárias. As ações humanas na exploração e na destruição dos recursos do planeta são prejudiciais à humanidade e uma ofensa ao Deus Criador, que, como está claro nas Escrituras Sagradas, se importa com a Criação em seu valor intrínseco – um jardim a ser administrado com sabedoria, e não apenas algo explorável e à disposição dos humanos. O “Mandato Sociocultural” (Gn 1.28-30) é tido, na Tradição Reformada, como uma tarefa divinamente outorgada que implica em mordomia, cuidado, uso sustentável dos recursos, educação, progresso científico, promoção das necessidades básicas de sobrevivência e de bem-estar para a humanidade, e tratamento humanitário e ético devido a todos os seres do planeta. Por isso, confessamos que cremos no Deus Criador, que ama e sustenta toda a sua criação e colocou o ser humano na terra como seu representante para cuidar e abençoar toda a vida no planeta. Cremos no Deus de toda a esperança, cuja palavra final sempre é a favor da vida e age, ainda que misteriosamente, em todas as circunstâncias da história humana para encaminhar a sua criação para a bênção final da reunião de todas as coisas com o Pai, no Filho e no Espírito Santo.

10. A Tradição Reformada sempre esteve, desde suas origens, engajada no progresso econômico das nações, na produção e na distribuição de riquezas, e na melhoria das condições de vida da população das cidades, sem ver a espiritualidade como algo supramundano, porém, promovendo-a de forma engajada com a vida, o que ficou conhecido como “ascetismo intramundano”. Por isso, a Resistência Reformada acredita ser fácil e necessário condenar o neoliberalismo, a plutocracia, a corrupção, a cleptocracia, o mau uso do dinheiro público e o descaso dos governantes para com os programas sociais. Cremos no Deus Libertador, que é o protetor de todas as pessoas e nações injustiçadas, e que dedica atenção especial aos empobrecidos pela injustiça e pela ganância dos sistemas econômicos humanos, visando a sua libertação integral. Defendemos, também, que a justiça social só é possível com equidade, e que as pessoas em situação de vulnerabilidade sejam protegidas pelo Estado para poderem competir com as demais em condições de igualdade, pois não há justiça social enquanto os débitos históricos criados pelas injustiças do passado não receberem a devida reparação.

11. Entendemos que a Teologia Reformada deve promover a igualdade e a fraternidade universais, bem como a luta por equidade, o combate ao patriarcalismo; e a defesa da emancipação das mulheres, dando-lhes condição de absoluta igualdade em relação aos homens, inclusive nas estruturas institucionais das igrejas. Afirmamos o mesmo em relação a todas as formas de racismo, classismo e diminuição da dignidade e dos direitos de pessoas motivadas pela cor da pele ou por etnicidade, identidade de gênero e similares. Em Cristo não há homem nem mulher. Não há raças. A escravidão acabou. A Teologia Reformada abraça a causa dos povos e das minorias oprimidas, pois Deus ama a justiça e a paz; e combate todas as formas de preconceito, pois o amor de Deus é por todos, e nele não há acepção de pessoas.

12. Por isso, a Resistência Reformada rejeita e denuncia todas as formas de totalitarismo, sejam de esquerda ou de direita; e repudia o combate aos direitos dos cidadãos e qualquer liderança política ou governo que se posicione em confronto com as leis e com a Constituição Federal, que ameace a democracia, e que promova a divisão e a polarização social. Denunciamos, com particular tristeza, o uso irreverente do nome de Deus para sancionar e promover ideologias humanas inimigas da liberdade e promotoras da divisão e da violência, criando confusão e desacreditando a mensagem do Evangelho. É facultado o direito à resistência e à desobediência civil quando um povo se vê vitimado pelo abuso e pelo desrespeito por parte de seus governantes. A luta contra a tirania política é um dever do qual o cristão e a cristã não podem se eximir.

13. Embasada na Teologia Reformada, a Resistência Reformada defende o respeito e o diálogo com outras teologias e outras religiões, na busca do entendimento, da troca e do mútuo enriquecimento. Cremos que Deus ama a todos e a todas, e não somente aos cristãos e cristãs, e governa sobre todos e todas. Ele é o Deus do universo, que não pode ser controlado, adestrado ou limitado em fórmulas teóricas humanas, que têm uma função pedagógica, na melhor das possibilidades. Por isso, a Teologia Reformada contemporânea trabalha na promoção do ecumenismo e do diálogo inter-religioso.

14. A Teologia Reformada acredita que Deus é soberano, que os valores do Reino de Deus são supremos, e que os reformados e reformadas devem se alinhar com eles e defendê-los na certeza de que o triunfo de Cristo é inevitável, em amor e na presença atuante e poderosa do seu Espírito, e que importa estar ao lado das causas do Senhor, sem medo das consequências, com plena disposição para sofrer o martírio, sem malícia ou ódio contra os semelhantes, cujas mentes se veem escravizadas, pois nossa luta não é contra carne e sangue, mas contra o mal e a morte em todas as suas formas.

15. Por fim, a Resistência Reformada afirma sua fé em Cristo Jesus, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Temos confiança de que Cristo, presente em nós pelo poder do Espírito Santo, nos guiará em direção a um futuro melhor, para além da ganância, da maldade, do pecado e do desrespeito ao semelhante. Nossa esperança é firme e inabalável no triunfo do amor sobre o ódio e a indiferença. Cremos que a vitória do Evangelho é, em primeiro lugar, a libertação da culpa do pecado na cruz de Jesus e na união mística com Cristo, que nos reconcilia com Deus e nos leva à santidade; e, em segundo lugar, a vocação para uma vida de integridade moral e espiritual que nos faz igreja a serviço da missão de Deus, engajada no resgate integral da humanidade, em todos os aspectos da vida e do ser. Maranata! Vem, Senhor Jesus! Seja feita a tua vontade, ó Pai, assim na Terra como nos céus! Porque teu é o Reino, o poder e a glória, para sempre. Amém.