Em nome da AIPRAL, publicamos o nosso voto de pesar pelo falecimento do Cardeal e Arcebispo Emérito de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, aos 95 anos, ocorrido, ontem, 14/12/2016, vítima de complicações de uma broncopneumonia. Ele passou os últimos anos de sua vida, de forma simples, recluso num convento na Região Metropolitana de São Paulo.
Foi um dos líderes religiosos mais influentes do Brasil, tendo seu destaque maior a luta pelos direitos humanos. Em São Paulo, iniciou suas atividades como bispo auxiliar do conservador cardeal Agnello Rossi, período que se destacou em defesa de presos políticos, entre eles frades e seminaristas dominicanos que haviam sido barbaramente torturados. Foi dessa forma que abraçou a causa que se tornaria marca de seu sacerdócio, sendo reconhecido como um dos mais importantes nomes da luta contra a ditadura militar e pela causa da redemocratização do Brasil.
Já na condição de bispo titular da diocese de São Paulo, colocou em prática as diretrizes do concílio Vaticano 2º na opção preferencial pelos pobres, conforme decisão da Conferência Episcopal de Medellin, na Colômbia, em 1968.
Em sua luta pelos direitos humanos foi o criador da Comissão de Justiça e Paz, tendo sido um dos coordenadores do grupo Tortura Nunca Mais, que se transformou no Projeto Brasil: Nunca Mais, que produziu valiosos relatórios e documentos sobre a extensão da tortura no Brasil. Este documento foi enviado pelo reverendo Jayme Wright para o Concílio Mundial de Igrejas, em Genebra, na Suíça, a fim de ser guardado, com medo que fosse destruído pelos militares.
Foi, no entanto, por ocasião da morte do jornalista Vladimir Herzog nas instalações do DOI-CODI, em São Paulo, em 1975, que ele se agigantou e sua ação foi fundamental. Ao lado do rabino Henry Sobel e do pastor presbiteriano Jaime Wright celebraram na Catedral da Sé o ato ecumênico, que se tornou a manifestação pública mais importante de repúdio contra os militares.
Despedimo-nos assim, de dom Evaristo Arns, pastor dos pobres e perseguidos, cardeal da esperança, mas que gostava mesmo de ser chamado de “amigo do povo”.